Desafios da habitação de interesse social são foco de debate em Novo Hamburgo

 

Publicado em: Novembro 8, 2018

Fonte: Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas

“A habitação de interesse social tem público e muito trabalho. Temos que encontrar maneiras de financiar esses projetos.” A frase da arquiteta e urbanista Paola Maia, do escritório AH! Arquitetura Humana, sintetiza a tônica da oficina ministrada ao lado da também arquiteta e urbanista Taiane Beduschi, durante o projeto Saergs Na Estrada, realizado terça-feira (07/11), na Ftec, em Novo Hamburgo.

Com o tema ‘Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (ATHIS) como área de atuação profissional’, a oficina trouxe à tona questões que envolvem o desenvolvimento de projetos focados para interesse social e detalhes da cartilha desenvolvida pelo escritório para o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Santa Catarina (CAU/SC). O documento integra um plano estratégico de implementação de assistência técnica para habitação de interesse social (PEI-ATHIS) e propõe diretrizes de implementação a partir de práticas já existentes nos setores públicos e privados, reunindo serviços técnicos da arquitetura e áreas afins visando garantir o direito à moradia digna a famílias de baixa renda.

Também foram relatadas experiências vividas pelas arquitetas na execução dos projetos desenvolvidos pelo escritório. Um deles é o Canto da Conexão, localizado na zona portuária de Pelotas. A ocupação nasceu para abrigar dois grupos distintos que apresentavam demandas diferentes: estudantes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) que não tinham condições de bancar os custos com moradia e pessoas em situação de rua em extrema vulnerabilidade social e econômica. “Esse trabalho foi fundamental para pensarmos o papel do arquiteto, no que se refere à remuneração desses trabalhos”, afirmou Taiane.

Mais do que proporcionar moradia para quem precisa, a ocupação foi fundamental para melhorias no entorno da edificação. Antes de ser revitalizado pelos novos moradores, o prédio era utilizado por grupos que acabavam inibindo a circulação de pessoas pela região. Segundo Taiane, os profissionais que trabalham com habitação de interesse social devem pensar sempre na relação com o espaço público, principalmente para desmistificar a visão criada sobre as ocupações. Para ela, esse também é o papel social do arquiteto.

De acordo com as profissionais do AH! Arquitetura, um dos principais desafios de se trabalhar com habitação de interesse social é a construção de arranjos que tornem viável o desenvolvimento de projetos para pessoas de baixa renda que, ao mesmo tempo, sejam rentáveis economicamente para que os elabora. “É um campo de militância sim, mas é preciso cobrar, pois é nosso trabalho”, afirma Paola.

Na Ocupação Dois de Junho, em Porto Alegre, por exemplo, os moradores não receberam incentivo público para realizar a reforma. Assim, a opção escolhida para bancar os custos da obra foi cotizar o pagamento de acordo com a renda dos moradores. O diretor de assuntos trabalhistas do Saergs, Hermes de Assis Puricelli, afirmou que trabalhos como o realizado pelo AH! comprovam a importância do arquiteto no aspecto social, destacando que essa é uma área cada vez mais demandada, fato que gera inúmeras oportunidades aos profissionais da Arquitetura e Urbanismo.

O projeto Saergs Na estrada é uma promoção do Sindicato dos Arquitetos no Rio Grande do Sul (Saergs) com patrocínio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS) e apoio da Associação dos Engenheiros e Arquitetos DA Região dos Vinhedos (Aearv), Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA RS), Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil/RS (AAI Brasil/RS), Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB RS) e Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA).

Foto: Carolina Jardine