Painel debate caminhos da inovação em Arquitetura

Data: 16/11/2016

Fonte: Imprensa FNA

 

Arquitetos e urbanistas são profissionais inovadores por natureza, mas o que se têm feito nesse sentido? A questão foi respondida no painel Projetar e Fazer, durante o Seminário Nacional “O Futuro da Profissão do Arquiteto e Urbanista”, realizado nesta quarta-feira (16/11), em Porto Alegre (RS). Inovar é tentar implementar a “teoria na prática”, sugeriu o arquiteto e urbanista Edinardo Lucas ao apresentar a ação em bairros de Goiânia, onde as comunidade de Itatiaia e Vera Cruz se caracterizam por projetos de habitação popular. Segundo ele, é preciso pensar diferente e em prol da coletividade. Um exemplo claro desse pensar diferente foi apresentado pela arquiteta e urbanista Paola Maia, cofundadora da AH! Arquitetura Humana. Ela detalhou o projeto colaborativo que está em elaboração para o assentamento 20 de Novembro e no qual o escritório defendeu a manutenção de áreas construídas em detrimento da elaboração de um estacionamento específico para a demanda do condomínio habitacional. “É uma área onde há modais de transporte público disponíveis. Destruir as estruturas já construídas para garantir as vagas exigidas pelo Plano Diretor é desnecessário”, pontuou a arquiteta, que ainda aguarda parecer da CAADHAP sobre a questão.

Lucas citou metodologias de execução que também permitem a inovação, como a adoção de torres de escadas metálicas erguidas logo após a execução das fundações, uma ferramenta vista como um incentivador para ação da coletividade. “Em um país onde há misérias em vários significados, os caminhos são vários, mas difíceis”, salientou Lucas. Segundo ele, o caminho da inovação está em diferentes fatores, como formação acadêmica, enfrentamento dos problemas sociais, criação de espaços públicos e coletivos, debate sobre renda fundiária e propriedade privada e mecanismos de controle social sobre a cidade. “Existe a miséria do pensamento e a miséria real. Miséria no pensamento é quando se reduz o trabalho do arquiteto e urbanista a um espectro da sociedade que pode pagar bem. E isso gera uma cidade miserável com alto custo social, alto custo de manutenção e segregação”, disparou.

As ações inovadoras do SASP foram apresentadas pelo seu presidente Maurílio Chiaretti. O foco principal foi o projeto piloto sobre assistência e assessoria técnica desenvolvido em Ribeirão Preto, que, em breve, será estendido a outras regiões do estado. O SASP fez cruzamento de dados e verificou que os locais de maior vulnerabilidade são exatamente os mesmos onde há menos arquitetos atuando. “Nossa profissão segue o caminho de onde tem mais dinheiro, mas, mesmo nessas cidades, a atuação vai se subdividindo”. Segundo ele, a arquitetura poderia intervir para resolver os conflitos, combater a precarização da moradia. Para isso, o SASP vem buscando convênios de cooperação técnica entre prefeituras e universidade e a aproximação com movimentos sociais e em áreas de ocupação. “São ações paralelas que tentam transpor as barreiras que separam os arquitetos da realidade que o Brasil vive”.

Entre os projetos do SASP para 2017, Chiaretti citou a criação de uma incubadora de assessorias técnicas. A ideia é fazer com que o sindicato seja uma entidade de apoio a esse profissional que quer ajudar a dar “um novo significado para a arquitetura”. Ele detalhou as dificuldades de mercado enfrentadas pelos profissionais em um país com alto índice de construções irregulares. “Os arquitetos não são reconhecidos como um critério fundamental, são mais um adereço que se cola mais ao luxo do que à necessidade. Somos compreendidos como profissionais essenciais para a construção.”

O painel foi concluído com o depoimento emocionado da diretora do Saergs Maria Teresa Peres de Souza, que relatou sua experiência como arquiteta da Caixa Econômica Federal e o trabalho em projeto de assistência técnica habitacional em diferentes países. Uma das ações citadas foi a iniciativa de cooperação desenvolvida em Moçambique que ainda está em andamento e contou com integração entre Agência Brasileira de Cooperação, Universidade de São Paulo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade do Rio de Janeiro, Universidade de Campinas, governo de Moçambique e Caixa Econômica. “Quando chegamos lá para ajudar, descobrimos o quanto tínhamos ido lá para aprender”, pontuou, referindo-se à necessidade de adoção de causas coletivas da população e de adoção de um olhar que permita transpor fronteiras. Citou ainda ações com Cabo Verde, Marrocos, Venezuela, Nicarágua e Guatemala. “Muitos profissionais não vislumbram essa atuação. Há um desconhecimento da ação da Caixa em relação a outros países”.