Prédio que abriga ocupação 20 de Novembro está preste a receber reforma

 

Publicado em: Maio 21, 2018

Fonte: Jornal do Comércio

 

Eduardo Lesina 

Os 2,9 mil metros quadrados na rua Dr. Barros Cassal, nº 161, terão, oficialmente, uma nova identidade em breve. O prédio, que foi construído para ser um hospital da extinta Rede Ferroviária Federal, ficou mais de 40 anos abandonado, e agora será recuperado para servir de lar para famílias de baixa renda. Após anos de lutas dos movimentos sociais por habitação, caso do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), em março de 2016, a Cooperativa 20 de Novembro – criada na luta por moradia em 2006 – recebeu a concessão do direito real de uso do edifício, uma vez que ele é de propriedade da União, com direito de uso para habitação de interesse social. Através dessa concessão, a cooperativa, que gerencia o prédio, pode apresentar o projeto de recuperação do edifício, em conjunto com o escritório AH! Arquitetura Humana. A recuperação do prédio é apoiada pelo Sindicato dos Arquitetos do Rio Grande do Sul (Saergs), através do programa Morar Sustentável, com patrocínio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU-RS). Além das instituições, o plano de recuperação do edifício histórico é financiado pela Caixa Econômica Federal, através do programa Minha Casa Minha Vida Entidades; e subsidiado por intermédio de projetos da lei de Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (Athis), que completará 10 anos de existência neste ano. Atualmente, 17 famílias de baixa renda residem no espaço do bairro Floresta, mas, com as reformas no ambiente, o plano é expandir para abrigar um total de 40 famílias. O escritório AH! Arquitetura Humana, que tem suas pautas voltadas à habitação social, assumiu as responsabilidades técnicas do projeto. Composto pelos arquitetos e urbanistas Paola Maia, Taiane Beduschi, Karla Moroso e Franthesco Spautz, o escritório trabalhou a relação da técnica e das necessidades dos moradores, questões que estão muito presentes na versão final do projeto. “É uma relação de aprendizado, tanto para nós, como técnicos, quanto para os moradores, pelas particularidades de cada um. Com isso, buscamos entender melhor as carências da comunidade”, conta Taiane Beduschi. Essa soma de esforços resultou nos novos espaços pretendidos pelos projetistas, que contam também com o arquiteto, e parceiro do escritório, Paulo Bicca, ex-professor de Arquitetura e Urbanismo da Pucrs. O novo desenho apresenta espaços destinados a fortalecer a economia interna do assentamento, bem como construir um espaço de cultura, com uma pequena biblioteca e um centro cultural, localizado nos fundos do prédio. A área frontal do edifício será aberta, para manutenção dos eventos culturais que acontecem na área. Esses espaços são pensados em conjunto com os residentes do local. “Os moradores fazem suas demandas, e nós adequamos ao projeto”, explica a arquiteta Paola Maia. Assim, os espaços planejados contribuem de forma direta na vida dos atuais e dos futuros moradores do Assentamento 20 de Novembro. O projeto ainda está em fase final de aprovação na prefeitura de Porto Alegre, com a espera pelas assinaturas dos órgãos responsáveis para a realização das obras. “Estamos trabalhando com a reconstrução do ambiente utilizando elementos que já caracterizam o lugar, a fim de manter a sua identidade.” A fala de Paola é relacionada com a forma como o projeto está sendo trabalhado. Os objetos removidos pelas obras de recuperação do prédio serão reutilizados e se tornarão elementos da nova identidade. Por exemplo, alguns dos mobiliários da área externa. O escritório, que já produziu projetos e estudos para outras ocupações, manifesta sua luta pela reforma urbana, e acredita que essa forma de trabalhar com a arquitetura seja um papel importante e de valorização do profissional. No Dia do Trabalhador, no último 1 de maio, em São Paulo, a atenção do País se voltou à questão da habitação social: um edifício desabou em um incêndio no Centro de São Paulo. O prédio era ocupado por sem-tetos e demonstrou a falta de controle dos órgãos públicos sobre o problema de moradia do Brasil. “O caso em São Paulo mostrou que temos que entender melhor como funciona a habitação no País. Esse também é o papel da arquitetura”, expõe Paola. Para Taiane, o entendimento da relação entre os espaços e a sociedade deveria ser melhor trabalhado na vida acadêmica: “O estudante de Arquitetura precisa entender que habitação social é um trabalho rico e tão importante quanto outros ramos da arquitetura e do urbanismo. Não podemos nos prender a ‘fazer museus'”. – Jornal do Comércio