A busca por uma arquitetura em favor do coletivo

Jornal A TARDE, Salvador.
Reportagem: Gilson Jorge 

URBANISMO

Na semana em que se comemora o Dia do Arquiteto, 15 de dezembro, profissionais da área debatem como o trabalho deles pode ajudar para uma efetiva inclusão social. 

Na semana em que se comemorou o Dia do Arquiteto, 15 de dezembro, profissionais da área se reuniram em Salvador para avaliar comooseu campo de atuação pode melhorar a vida das pessoas, da porta de casa para fora.

“As casas da periferia estão, ao seu modo, resolvidas.O que as pessoas estão precisando é viver melhor no seu bairro”, pontua Ângela Gordilho, professora de pós-graduação da Universidade Federal da Bahia e coordenadora da Residência AU+E, Especialização em Assistência Técnica de Habitação e Direito à Cidade. 

Em sua terceira turma, a especialização desenvolve simultaneamente 25 projetos de melhoria em comunidades carentes, incluindo uma na Paraíba, em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB). “Um dos projetos é a criação do Parque Teodoro Sampaio, em Mata Escura, uma área que já está sob ameaça de ocupação, explica a professora.

Com os grandes empreendimentos imobiliários moldados de acordo com os interesses das empresas, Ângela aposta nesse nicho como uma possibilidade de os arquitetos intervirem nos espaços públicos. “Não devemos esperar que o estado faça tudo. Temos mais de 300 escolas de arquitetura no país. Se todas fizerem projetos, haverá um certo impacto”, aposta a professora, para quem há muito mais a fazer pelas comunidades do que asfaltar vias e construir quadras de esportes.

Debate Atual

Um dos debates mais atuais entre os urbanistas é como o seu trabalho pode ajudar na inclusão social. As cidades colombianas de Bogotá e Medellín, por exemplo, tornaram- se modelos de redução da violência gerada pelo narcotráfico em função, entre outras coisas, da prioridade que o urbanismo deu aos equipamentos culturais e de convívio. “O grande desafio do urbanismo é transformar os espaços públicos”, afirma arquiteta gaúcha Paola Maia, uma das sócias do escritório AH! Arquitetura Humana, que está envolvido em ações no Assentamento 20 de Novembro, em Porto Alegre.

A data que batiza o projeto lembra o momento em que um grupo de pessoas resolveu ocupar uma área nas proximidades da Arena Beira-Rio, que estava destinada a se tornar um centro de hotéis em função da época da Copa do Mundo e, como a ideia não foi adiante,se transformaria em um enorme estacionamento, expulsando moradores da região.

“Quando falamos em direito a moradia, não nos referimos apenas ao acesso a abrigo e sim ao acesso à cidade”, diz Paola, que se declara uma militante de uma luta para que haja mais justiça e inclusão social em Porto Alegre.

Subutilizada, Biblioteca Central dos Barris anuncia projeto para 2017

Sem exibição de filmes a partir das 19h, a Sala Walter da Silveira é um exemplo da subutilização do complexo da Biblioteca Central dos Barris, um dos maiores equipamentos públicos do centro de Salvador e que apresenta uma oferta de serviços cada vez menor.

“As bibliotecas podem ter um papel fundamental na atração dos jovens, com rede de wi-fi e atividades culturais”, afirma o arquiteto e urbanista Edinardo Lucas, colaborador do portal habitaracidade.com , que reúne iniciativas de urbanismo social em Goiânia.

Lucas veio a Salvador esta semana para participar do painel Arquitetando e Transformando, junto com a gaúcha Paola Maia.

Em Salvador, a principal biblioteca tem ido no caminho oposto, coma extinção das atividades culturais nos fins de semana e a redução da programação de segunda a sexta. “As sessões noturnas de cinema foram suspensas por questão de segurança”, reconhece Bertrand Duarte, da Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural da Bahia (Funceb), que reconhece a subutilização dos equipamentos culturais.“Tenho defendido que o cinema e a biblioteca ajam como um condomínio. Estamos conversando nesse sentido”, afirma Duarte.

O diretor da Fundação Pedro Calmon, Zulu Araújo, afirmou que Lívia Freitas, nova diretora da biblioteca, deve desenvolver um novo projeto com novo conceito e formato semelhante ao contemporâneo da Biblioteca Parque, no Rio de Janeiro. “Em 2017, este novo conceito será discutido e também dialogado com setores das iniciativas privada e pública para que tenhamos uma biblioteca efervescente e dinâmica, moderna e atenta às novas demandas da sociedade”.