ArtPrision _ Young Architects Competition

Projeto Desenvolvido* para o Concurso ARTPRISION YAC

"A solidão é o ateliê onde o atento artista de si mesmo trabalha a matéria da vida, não há arte ou beleza em geral sem ela"

AH! Arquitetura Humana + Arq. Franthesco Spautz

Excepcional testemunho histórico no alto de uma montanha, o Castelo de Santa Caterina é um monumento que conecta o passado e continua a existir no presente para ser experienciado ao longo dos séculos. Sua história é seguida por origens deveras antiga (acredita-se que do século XII, e reconstruída pelo Barão de Favignana, Andrea Riccio, no século XV – XVI).


Orquestrada no espaço, tempo; o castelo “presenciou” em Favignana o primeiro Porto Siciliano (1281); a chegada das frotas com as bandeiras de Aragão; a frota de Barbarossa; o regime sangrento do rei Bourbon transformando-se em uma prisão que durou anos. Um dos prisioneiros mais conhecidos foi Giovanni Nicotera, patriota e político italiano. Mussolini enviou os inimigos do regime fascista, decidiu transformar o castelo em uma prisão de segurança máxima. Tornou-se famosa por seu “poço” , evidenciado em um ditado popular: “U carciri di Santa Catarina è ammintuatu, cu trasi c’a parola, n’esci mutu” (“a prisão de Santa Caterina é bem conhecida: quem entra com a palavra, fica em silêncio”) . Também foi citada na literatura, o escritor Alexander Dumas, em seu romance Os Bourbons de Nápoles: “Para aqueles cuja Majestade foi graciosa, havia o poço de Favignana, que é uma sepultura”.

Foi necessário interpretar o Castelo de Santa Caterina, história e paisagem para que surgisse o ArtPrision, museu à céu aberto de arte contemporânea e hotel. A intervenção surge com respeito, elevado sobre o topo de uma colina, em um local de difícil acesso, onde escadas e caminhos pontuados por obras de arte e natureza assumem ares de peregrinação. As notícias mais antigas sobre a existência de um castelo nas ilhas Égadas estão relacionado a Favignana, no famoso relato de viagem de “Giubayr (1184 – 1185) sobre a presença de um monge ou ermitão que viveria, em absoluta Solidão, “no topo da ilha” em um “tipo de castelo” que deveria estar localizado no alto da montanha, provavelmente no local da futura fortaleza de Santa Caterina ( Fonte: Il restauro monumentale nelle Isole Egadi Studio; analisi e progetti; 2007) A solidão dá-se pela história e isolamento físico do mesmo.

A imponência do Monumento sobre a colina, a sublime paisagem e a história marcada por sangue, nos mostra quanto somos frágeis e transitórios. A vida não é linear, ela é composta por caminhos livres, de erros e acertos. Ao fazer o silencioso caminho até o Castelo, o visitante confronta-se com a essência de seu ser, um afastamento necessário para se pôr a frente de si mesmo

“Ser isolado é não ter contatos, relações, amigos, Ser só é ser si mesmo, sem recurso, e é a verdade da existência humana” 

A piscina tem parte escavada na pedra, parte em concreto polido; em um momento é coberta remetendo às grutas do entorno , em outro com borda infinita e encontro ao mar.

Ao chegar no topo , o acesso ao Artprision acontece pela intervenção contemporânea que assume sua forma inspirada em uma rocha, claramente aludindo a geologia de Favignana. Uma fenda reportando às grutas de Favignana, transforma-se no acesso ao museu e hotel. A conexão da intervenção ao castelo dá-se por um caminho talhado nas pedras e estes recortes referem-se às pedreiras da ilha, com suas paredes verticais, onde foram extraídas as rochas em blocos prismáticos regulares.

As pousadas para os artistas e seus ateliers estão dispostos ao longo do castelo. Para cada artista hospedado, foi projetada uma sala de produção artística / exposição. Nas galerias, o novo piso é instalado delicadamente sobre a pré-existência. Estas intervenções não encostam no patrimônio, respeitando o monumento.

Apartamentos/Atelier, onde os artistas possam trabalhar com as melhores condições de inspiração / laboratório.

Hotel em módulos, com vista para o mar, equipados com todos os serviços de um confortável hotel. O jardim no interior da arquitetura contemporânea, faz menção aos prósperos jardins subterrâneos obtidos dentro das pedreiras em desuso, onde ervas silvestres e árvores crescem devolvendo essências.

Não só de momentos confortáveis o projeto é marcado, o castelo de Santa Caterina contém significados que ultrapassam a arquitetura em si. Estão presentes no espaço, nas superfícies de pedra, umidas, e “gélidos fios de luz”, uma trama marcada pela angustia e dor. Parte triste desta história que precisa ser pensada em um diálogo entre a arquitetura e arte.
Acima do terraço, de encontro ao céu e mar, localiza-se o restaurante. Sua volumetria surgiu da interpretação do monumento arquitetônico, relendo suas alturas, fenestrações. A “adição contemporânea” poderia referir-se a paz, silêncio, com deslumbrante vista para o mar; mas também anuncia o testemunho desta antiga prisão. Com estrutura em laminas de aço cortein e pedras em seu interior (como um gabião). As pedras, fazem alusão à geologia de Favignana, uma das características das casas da Aldeia, são as paredes de pedra seca, interligadas uma a outra sem qualquer ligação de cimento ou cal. Estas pedras de arenito poroso e sedimentar vem das pedreiras que estão na ala sudeste da ilha, chamada de “Piana”. A parte noroeste tem um tipo diferente de pedra: um calcário duro, nem poroso, nem liso.